sexta-feira, 6 de março de 2009

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A PROPÓSITO DE HABEAS CORPUS E DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
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O Ministro (Juiz Conselheiro) Joaquim Barbosa – pessoa por quem me interessei a saber mais (nomeadamente o que pensa em dadas matérias) por razões profissionais – é um dos mais duros ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, assumindo-se como uma espécie de defensor do povo no STF. Um populista para muitos. Defende-se: queriam um negro submisso – diz ele. O povo, ao que parece, está contente com o desempenho de Joaquim Barbosa (o único negro do STF e o terceiro no história do mesmo) e a sua nomeação pelo Presidente do Brasil, Lula da Silva, para o Supremo Tribunal de Justiça.

No ano passado, terá chamado de «burro» e incompetente ao também Ministro Eros Grau por este ter deferido um Habeas Corpus que libertou um cidadão que confessou publicamente o crime de que era indiciado. Joaquim Barbosa terá, inclusive, mandado o colega Eros Grau voltar para a escola…

– "Como é que você solta um cidadão que apareceu no Jornal Nacional oferecendo suborno"? – perguntou o Ministro Joaquim Barbosa ao Ministro Eros Grau.

Depois foi a vez de afrontar o Ministro Gilmar Mendes, Presidente do Supremo Tribunal Federal. A questão prendeu-se com a declaração de inconstitucionalidade de uma norma feita pelo STF e que, por uma questão processual, se queria reabrir a questão no dia seguinte. O Ministro Joaquim Barbosa foi claro, e disse ao Presidente de do STF que ele – visivelmente nervoso (os julgamentos STF são transmitidos ao vivo para todo o Brasil) – estava a fazer «um jeitinho».

Será que querer que se cumpra a lei é, em si mesma, «dar lição de moral» a seja quem for? Parece-me que não! O Mundo está cheio de jeitinhos – e não é só no Brasil; ai não.

Aquando da questão como o Ministro Eros Grau terá dito: – «Quem já bateu na mulher, também pode bater num velho». Isso em alusão a uma suposta queixa que a mulher terá feito contra o marido Juiz do Supremo Tribunal Federal do Brasil. O Ministro Joaquim Barbosa, sanguíneo, sente-se um herói brasileiro – dos negros e dos mais pobres. Estes quereriam, certamente, ver mais desta discussão; mas o Ministro Marco Aurélio (com quem Joaquim Barbosa já teve conflitos) pediu vistas ao processo e a questão ficou sanada. Ou será que não?... A questão de fundo vai, neste incidente, para além da questão objecto do processo – levanta sérias questões sobre a imparcialidade dos juízes.

Estes dois episódios – entre outros – deixam a nu o sistema judicial. O poder – excessivo em alguns casos – fazem com os juízes se sintam uma espécie de semideuses, mas estas situações trazem-nos à terra, à realidade. Humaniza-os. Mesmo quando batem na mulher (não por baterem, mas por se saber que também batem), ou tentam fazer jeitinhos (não por fazerem jeitinhos, mas por se saber que fazem jeitinhos).

– «Nós temos de acabar com isso» – disse o Ministro Joaquim Barbosa.

Acabar com isso, o quê? Com o jeitinho, é claro. Ninguém quis entender o que é claro, cristalino com a água da fonte. Mas o que fazer? Fiat iustitia pereat mundus (Faça-se justiça, ainda que o mundo pereça) – já diziam os antigos. Oh, Atlas! Mas com jeitinho, o Mundo vai rodando, rodando sempre no mesmo sentido; sustentado pelo jeitinho.

  • Video de seccão do Plenário do STF com discussão entre os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa

8 comentários:

  1. Os "jeitinhos" qualquer que seja o seu significado fazem parte da vida humana. Um juiz do supremo entra no lote de "vida humana"? Claro, mas com reservas! Um juiz do supremo pode figurar entre o comum mortal médio. Esse tal homem médio? Claro que NAO! E' a diferença de peso. Um juiz do supremo é uma autoridade judicial, moral e excepcional, logo tem de ser como a mulher do César, ou nao?! Mas sua estoria de juiz e de violência doméstica, faz-me lembrar um amigo meu, que ha muitos anos era juiz. Era um bêbado impenitente e como bom macho, como é evidente, batia também na mulher, nas mulheres, pois a sua posiçao social dava-lhe esse direito de ter as amantes que quisesse. Entao, um dia, viro-me para ele e pergunto-lhe: mas, oh brother, como é que podes ser juiz e julgar homens como tu, quando passas a vida bêbado indo a ponto de te apanharem fusco deitado no chao"? Responde-me ele:" la vens tu com liçoes de moral, tu que és mulherengo; cuidado que posso dar ordens à policia para te fecharem na cadeia?" Isto é mesmo verdade, sem tirar nem pôr e aconteceu na nossa linda terrinha de juizes velhos demais ou imberbes a cheirar leite para serem juizes do Supremo tribunal. Al Binda

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  2. Al Binda,
    os juízes devem ser como a Faustina e a Lucilla (pouco virtuosas, diga-se de passagem) que Marco Aurélio desejava, sim: serem e parecerem sérias.

    Um Juíz não pode dar «jeitinhos»! Isso é corrupção moral – no mínimo.

    Não poderiamos estar mais de acordo. Este Juiz de que fala deve ser daqueles que faziam filhos nas filhas dos pobres e depois… muitos, aind ano tempo colonial, chegaram a ser obrigados a pagar pensões de alimentos.

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  3. Conheci esse juiz de São Vicente. Se não me engano, morreu de cirrose.
    Maas quem o conhecia bem, sabia que a bebida e depois o uso de drogas, eram escapes para as violências que sofreu, profissionalmente e na vida familiar de infância.
    Claro que as incompreensões da vida e do mundo, não justificam os nossos erros. Devemos sempre ser sábios e afortunados, procurando superar-nos como pessoas. Este o segredo do mérito. Não concordas VB?
    Julgo, igualmente, que quem ocupa lugares que lhe possibilita exercer poderes que mexem com a vida das pessoas, têm de ter uma postura, na vida privada e pública, exemplar e com probidade.

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  4. Jessica, é verdade… o mal que nos causam tenta moldar-nos – mas temos o dever de resistir a isso! Mas nem sempre se consegue; a nossa natureza é fraca, demasiado fraca. Mas eu tenho a âncora do meu Mestre e tento, tento sempre (e continuo tentando, para não esquecer) fazer do perdão mais do que palavras.

    Sim, devemos tentar, sempre, ser sábios (digo isso porque nem sempre o somos – mesmo quando assim pensamos ou desejamos). A palavra certa no momento certo, a acção assertiva na hora certa… não é coisa pouca nem definitiva; advém de uma condição de alma que o tempo de hoje tem refém e que urge resgatar.

    A Fortuna nem sempre olha para nós com olhos de paixão ou amor. E a fortuna (esta com letra pequena), é incidente existencial e o seu acontecimento ou não nas nossas vidas deve ser se vista com os mesmos olhos e sentimentos: como algo que pode nos tornar pessoas melhores e ajudar os outros a sê-lo.

    Sobre o superar-nos como pessoas… mas existe outro sentido na existência (além do dever de melhorarmos o Mundo que nos rodeia) que não seja esse? Salvo melhor opinião, penso que não.

    Sim, quem desempenha funções públicas «não é de si mesmo» (por isso é que é uma «pessoa pública» - mas falha-nos entender este sentido do serviço público) e a factor exemplo é fundamental. Por isso, Jessica, é que os homens do passado mais longínquo e que eram chamados a exercer funções públicas, nomeadamente a Magistratura, eram chamados de «homens bons» – seja qual for o sentido axiológico em que se entender este adjectivo.

    Sobre o segredo do mérito…
    Ah, Jessica! O mérito é como a cebola: ninguém gosta de descascá-la, e de olhá-la com os olhos abertos. Faz lacrimejar quem nela assim mexe.

    O mérito é coisa mais difícil de ser medida, e não gostamos de aferi-la pois faz-nos olhar para nós mesmos: faz-nos medir as nossas (in)capacidades e nosso ser interior. Daí, minha amiga, nasceu a inveja e as suas irmãs.

    Ser-se sábio passa por olharmos sempre para dentro de nós e confrontarmos o nosso ser com a excelência; deste modo a capacidade e o mérito dos outros não nos será de nenhum incómodo pois estaremos sempre em demérito diante da excelência.

    Assim, nunca seremos sábios diante de nós mesmos. Ler sobre matérias em que somos leigos ajuda, em muito, a compreender isso: é um exercício de humildade.
    :-)
    VB

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  5. Ja é tempo de Virgilio escancar as portas deste espaço levado pelas minhas maos como o outro Virgilio foi conduzido na sua viagem pelo Inferno e o Purgatorio pelas divinas maos de Dante! Ja é tempo de termos esse dialogo que se nos impoe de portoes escancarados deixando entrar o ar fresco que nos vem das nossas rochas e íngremes ladeiras. So assim saberemos balancear os pratos da Justiça e da Injustiça. Na era do instântaneo ocupam os primeiros lugares do teatro greco-romano aqueles que souberem melhor e mais rapidamente aquilatar da justeza do homem e da maldade do homem também. Quem pode dizer que desta agua nao beberá? Quem, homem ou mulher pode afirmar que nao pecou? Mesmo Jesus pecou; e depois S. Agostinho, que nessa irmandade desencontrada dos cristaos e dos judeus, teve a sentença assassina de que os judeus foram testemunhas da sua iniquidade e da nossa (cristaos) verdade! Que verdade? Que iniquidade? Pode o homem julgar o seu próximo mesmo sendo S.Agostinho? Ou quando santo temos todos os direitos? Direito mesmo de expulsar este porque pecou, de exterminar o outro porque é diferente, de condenar à prisao aquele porque me desafiou na minha prepotência? Estamos pois rodeados de santos e demónios, de juizes e condenados e ninguém tem a certeza absoluta da sua condiçao imaculada que lhe dará o direito de lançar a primeira pedra. O meu amigo juiz nao era dono do direito de julgar porque estudou as leis mas porque teve a sorte e engenho de estar la no momento certo. Dizia-se que tinha "mérito e competência", mas o facto é que era bêbado e julgava homens! Mérito e competência nao sao pois incompativeis com a condiçao de bêbado, dr Virgilio. Pode-se ser competente, mas ser também espancador de mulheres. Aqui é uma questao que tem a ver mais com a moralidade. Mas isto ja é outra conversa; mas ainda tenho tempo de dizer que o meu amigo juiz nao era nao de S.Vicente! Ja agora porque é que ele teria que ser de S. Vicente? Mas mesmo assim fiquei a saber que houve outro juiz da mesma estirpe e que para o meu mal era da minha ilha. E' o que eu dizia quem pode afirmar que está alvo como a hóstia sagrada?! Nem S Agostinho, nem S.Joao Crisostomo, quanto mais agora a minha pobre pessoa?! Al Binda

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  6. VB, o Juiz de que falei aqui não nasceu em Cabo Verde, nasceu num país do continente africano de lingua oficial portuguesa, filhos de caboverdianos, sendo o pai de São Vicente. Acho que é a mesma pessoa. Mas isto não vem ao caso em discussão.
    Conheci-o muito bem foi meu colega em Coimbra, e com ele aprendi muitas coisas.
    E o seu lado "humano" não lhe retira o mérito de ter-me ajudado a ser o que sou hoje.
    Concordo com o que acabaste de dizer, VB.
    Inté.

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  7. A Jessica tem dificuldades de leitura. E' que insiste em ver S.Vicente naquilo que eu escrevi sobre o tal juiz. Oh mulher eu ja disse que esse juiz nao é de Soncente, nem ele nem os pais, logo o juiz de que fala so pode ser outro. Você deve ter também problemas com as cores, ja que vê azul la onde está castanho! Peça uma consulta ao dr virgilio, caramba! Al Binda

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  8. "(...)Mas isto ja é outra conversa; mas ainda tenho tempo de dizer que o meu amigo juiz nao era nao de S.Vicente! Ja agora porque é que ele teria que ser de S. Vicente? Mas mesmo assim fiquei a saber que houve outro juiz da mesma estirpe e que para o meu mal era da minha ilha.(...)", dixit Al Bind supra.

    Afinal Al Binda quem é daltónico é o Sr. e não eu.

    Eu disse apenas que o dito, que não era o dito, não nasceu em CV, aenas os pais, e voçê diz agora que nem os pais eram de São Vicente. Em que ficamos?

    Por essas afirmações, já percebi que deve ter a idade do meu pai, uns oitenta e poucos anos.

    Tarde boa

    :-)

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